Seletividade Alimentar
- Valéria Rodrigues
- 14 de set. de 2020
- 4 min de leitura
De acordo com Sampaio e col, 2013, a recusa alimentar é um comportamento típico da primeira infância, caracterizado por comportamentos como: fazer birras, demorar a comer, tentar negociar o alimento que será consumido, levantar da mesa durante a refeição e beliscar ao longo do dia. No entanto, parece haver crianças que persistem com comportamentos peculiares até meados da infância ou continuam pelas demais fases da vida. Esses comportamentos seriam definidos como seletividade alimentar, que é caracterizada por um consumo alimentar altamente limitado e extrema resistência em experimentar novos alimentos.

Há também uma diferença importante entre Seletividade Alimentar e Comportamento Alimentar. Diferente da seletividade onde existe principalmente questões sensoriais e impactos de rigidez mental envolvidos, o comportamento alimentar, possui questões relacionadas aos hábitos alimentares, ou seja, as práticas relativas a alimentação principalmente na infância, podemos dizer que está mais relacionado com as preferências alimentares da criança, como por exemplo a seleção de determinados alimentos e até mesmo o preparo destes alimentos. Vamos entender melhor:

Nesta foto, apesar de se tratar de uma escolha óbvia para a maioria das crianças, inclusive para alguns adultos, onde a maioria irá optar pela coxinha (entre ela e uma refeição saudável) a partir do momento em que a criança sempre escolhe a coxinha, pelo seu sabor e passa a não aceitar comer qualquer outro alimento, os pais acabam ao longo do tempo, até mesmo pela preocupação de ver a criança se alimentando cedendo e sempre concedendo o alimento que a criança "escolhe". Vale ressaltar que alimentos ricos em carboidrato e açúcar promovem uma reação no cérebro de prazer, que podem inclusive causar uma espécie de vicio por esses alimentos, portanto quando a criança come apenas estes tipos de alimentos fica um pouco mais fácil compreender essa recusa alimentar.
Porém esse tipo de comportamento não se trata de seletividade, mas sim de recusa alimentar por preferência, ou seja, um comportamento alimentar inadequado, sendo este um comportamento ensinado, onde a criança aprendeu que se ela não comer os demais alimentos, ganhará o alimento desejado de sua preferência. Vale a ressalva aqui, que não se trata de uma escolha pontual, ou que seja, que aconteceu uma vez ou outra, onde a criança consegue em eventuais refeições comer outros alimentos, falamos aqui dos casos em que a criança só aceita comer os alimentos de sua preferência, onde em sua maioria são alimentos ricos de açúcar e/ou carboidratos, portanto não significa que será fácil de mudar este comportamento. Pense que se a criança praticou apresenta esse comportamento com uma resposta positiva dos pais por anos (fez birra > não comeu a refeição ideal > e os pais cederam a coxinha), não será em duas ou três refeições que esse comportamento será mudado, a criança já apresenta este comportamento em seu repertório, por isso o acompanhamento e orientação de um profissional devidamente qualificado se faz necessário também para estes casos onde não há seletividade alimentar de fato.
E qual a relação do Autismo com a Seletividade Alimentar?
Quando relacionamos a seletividade alimentar ao autismo, o trabalho se torna um pouco mais complexo devido as características próprias do autismo. Como já falamos anteriormente, o autista pode apresentar alterações no processamento sensorial sensoriais, que são fatores que podem contribuir diretamente para a seletividade alimentar, ao que se refere principalmente as questões de textura, cor, sabor, forma, temperatura e cheiro do alimento.
Da mesma forma, o autismo pode interferir diretamente nas questões alimentares devido aos interesses restritos e a rigidez mental, que também são características do autismo, que acabam interferindo no ato de experimentar novos alimentos, reduzindo o repertório de alimentos, a resistência em fazer as refeições em horários e locais diferentes, entre outros. Isso ocorre pela necessidade que muitos autistas tem de rotina, de permanecer na mesmice e neste caso podemos incluir comer sempre as mesmas coisas ou os mesmos preparos.
Uma das características do autismo, comum em quase todos os diagnósticos, é a rigidez no pensamento. Essa característica está relacionada ao apego à rotinas, falta de imaginação e criatividade, resistência à mudanças, comportamentos restritivos ou obsessivos. (PULY, 2016).
Quais profissionais procurar?
O autismo se manifesta e se desenvolve de formas diferentes em cada individuo. Por isso, cada indivíduo terá características em comum com o quadro geral, porém únicas em intensidade e as opções de intervenção devem ser analisadas individualmente. Assim, uma equipe multiprofissional ou multidisciplinar, terá maior capacidade e mais condições de analisar as diferentes opções de abordagens e as que mais se adequem àquela pessoa, à sua família e ao momento em que se encontram. (Techknowledge, s.d.)
Está mesma premissa, deve-se ser considerada no tratamento da seletividade alimentar, onde vários profissionais precisam ser envolvidos:
Psicólogo Comportamental: Atuará na intervenção do comportamento inadequado frente aos alimentos, rigidez mental, interesses restritos, entre outros;
Nutricionista: Atuará na seleção dos alimentos e nutrientes adequados ao desenvolvimento da criança, auxiliando na substituição de determinados alimentos, e principalmente orientando os pais no preparo dos alimentos em texturas em que não terão grande impacto sensorial, entre outros;
Terapeuta Ocupacional: Atua neste caso, na regulação sensorial, amenizando os impactos da alteração no processamento sensorial;
Fonoaudiólogo: Atuará em questões relacionadas a mastigação, deglutição, questões fono articulatórios entre outros.
Assista o vídeo completo sobre os Seletividade Alimentar: quais profissionais procurar em nosso canal do Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=qlwxgOQm0wM
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Referências:
Puly, A. O autismo e a rigidez no pensamento. Clube Materno. 2016. Acesso em: http://clubematerno.net/2016/04/23/o-autismo-e-rigidez-no-pensamento/
Sampaio, A, B, M; Nogueira, T, L; Grigolon, R, B; Roma, A, M; Pereira, L, E; Dunker, K, L, L. Seletividade Alimentar: uma abordagem nutricional. São Paulo: Unifesp. 2013.
Techknowledge Treinamento. A importância de um time multiprofissional no autismo. [S. D.]. Acesso em: https://tk-ead.com.br/blog/uncategorized/a-importancia-de-um-time-multiprofissional-no-autismo/
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